CIGARROS ELETRÔNICOS E ANESTESIA

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Preparem-se porque preparamos um conteúdo bem relevante sobre esse assunto.

A compreensão dos efeitos dos aerossóis recreativos na saúde está incompleta e, embora esteja em curso diversos trabalhos, ainda não foram desenvolvidas e aplicadas legislação e regulamentação robustas a uma grande variedade de produtos.
Os cigarros eletrônicos (e-cigarros) são dispositivos que emulam a experiência de fumar.
Quando ativados, os cigarros eletrônicos produzem um aerossol, conhecido como “vapor”, que é inalado pelo usuário. Um aerossol é uma suspensão de finas partículas sólidas ou gotículas de líquido no ar ou outro gás. Os termos «cigarros eletrónicos» e «produtos vaping» abrangem tanto os sistemas eletrónicos de distribuição de nicotina (ENDS) como os sistemas eletrónicos de distribuição sem nicotina (ENNDS)
O e-líquido normalmente consiste em uma base de propilenoglicol, glicerol ou ambos, sabores e potencialmente nicotina ou outros ingredientes ativos. Os sistemas eletrônicos de administração de nicotina contêm nicotina em concentrações de até 36 mg.ml-1.

Figura 1. Estrutura dos cigarros eletrônicos.

Fonte: Anatomy of an e-cigarette. Source CDC: Centers for Disease Control and Prevention. E-cigarettes, or vaping, products visual dictionary. (Disponível em: https://www.cdc.gov/tobacco/basic_information/e-cigarettes/pdfs/ecigarette-or-vaping-products-visual-dictionary-508.pdf)

A absorção sistêmica de nicotina dos cigarros eletrônicos é afetada pela concentração de nicotina no líquido e pela natureza do dispositivo de vaporização e da técnica de inalação. As concentrações de nicotina alcançadas após o uso do cigarro eletrônico variam, embora as concentrações de cotinina, indicando exposição à nicotina nos últimos 3-4 dias, sejam comparáveis entre usuários experientes de cigarro eletrônico e pessoas que fumam.2 A maioria dos cigarros fabricados contém aproximadamente 10 mg de nicotina com apenas cerca de 1 mg de nicotina sendo absorvida por cigarro. Vários estudos relataram concentrações arteriais de nicotina após o uso de cigarros combustíveis entre 20 e 100 ng ml-1.

A nicotina liga-se aos receptores colinérgicos nicotínicos, resultando na secreção de neurotransmissores incluindo dopamina, glutamato e ácido gama-aminobutírico, que são importantes no estabelecimento da dependência da nicotina (Figura 1).

Figura 2. Representação esquemática do receptor nicotínico.

O vapor do cigarro eletrônico contém produtos químicos com potencial cancerígeno, incluindo glicóis, acetona, aldeídos, compostos orgânicos voláteis, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), nitrosaminas específicas do tabaco, metais (incluindo estanho, cromo, prata, cobre, chumbo, arsênico e níquel) e partículas de silicato. Há evidências de que a serpentina de aquecimento pode ser uma fonte de contaminação metálica. Endotoxinas bacterianas e glucanos fúngicos também foram identificados em e-líquidos.

Foi demonstrado que a butanodiona, um aromatizante usado na pipoca e em e-líquidos causa bronquiolite obliterante ou “pulmão da pipoca” quando aquecida e inalada em doses significativas ao longo do tempo.2 Os tóxicos produzidos na combustão dos cigarros tradicionais são encontrados em

concentrações mais altas e em números mais elevados do que os cigarros eletrônicos.

Relatórios da Public Health England (PHE) e do Royal College of Physicians (RCP) reconhecem que os cigarros eletrónicos não são isentos de riscos, mas estimam que é pouco provável que apresentem mais de 5% dos riscos para a saúde decorrentes do consumo de cigarros.

Foi relatado que os cigarros eletrônicos causam lesões que vão desde queimaduras de espessura total até traumas de explosão, sendo o problema descrito na literatura sobre queimaduras como uma “epidemia não reconhecida” por si só. Os cigarros eletrônicos contêm um elemento de aquecimento na câmara de vaporização que aquece o líquido a temperaturas normalmente entre 100 e 250°C.

Foi sugerido que o mecanismo provável é o mau funcionamento da “fuga térmica” das baterias de íons de lítio. As áreas afetadas incluem o rosto, as mãos e principalmente a coxa e a virilha, sustentadas enquanto o dispositivo é armazenado dentro da roupa.

Implicações da vaporização para a prática anestésica

É evidente que o tabagismo causa prejuízos no período perioperatório com aumento de complicações respiratórias, cardíacas e de feridas. Um estudo de 2011 com pacientes submetidos a cirurgia não cardíaca mostrou que o tabagismo atual (fumou no último ano em comparação com nunca fumou) estava associado a um aumento de 40% nas chances de mortalidade em 30 dias e 30-100% de chances aumentadas de morbidade grave, incluindo infecção do sítio cirúrgico, pneumonia, infarto do miocárdio e choque séptico.26 Em contraste, ainda faltam evidências sobre o efeito da vaporização nos resultados perioperatórios e, portanto, não há consenso sobre a abordagem ao uso perioperatório de cigarros eletrônicos. O uso de cigarros eletrônicos pode sugerir história prévia de tabagismo e isso deve ser considerado na avaliação do risco perioperatório do paciente. É improvável que o uso de produtos de vaporização cause tanta preocupação quanto fumar cigarros combustíveis, dado que o dano sugerido da vaporização é inferior a 5% dos cigarros combustíveis.2,4

Recomendamos que os anestesistas questionem diretamente os pacientes sobre o uso de produtos de vaporização, além de consultar o histórico de tabagismo, álcool e uso de drogas ilícitas durante a avaliação pré-operatória de rotina. Sugerimos perguntar sobre a frequência de vaporização, o tipo de dispositivo de vaporização e o líquido utilizado, incluindo a concentração de nicotina.

Complicações perioperatórias

As evidências limitadas até o momento levantam preocupações sobre complicações cardiovasculares, respiratórias e de feridas associadas ao uso de cigarros eletrônicos. Um corpo crescente de literatura descreve alterações a nível celular e bioquímico, embora ainda faltem dados convincentes sobre os resultados, particularmente num contexto anestésico. Alguns paralelos podem ser traçados entre os efeitos fisiológicos e farmacológicos do fumo e da vaporização.

Respiratório

Sintomas como irritação na garganta, tosse cronica e produção de catarros mostraram-se corriqueiras em fumantes de cigarros eletrônicos.

Eritema e hiperreatividade de VA em adicao à injurias bronquiais mais severas, mesmo em indivíduos sadios. Maior chance de broncoespasmo e laringoespasmo.

Diminuição da funcao ciliar e altera reflexo da tosse, prejudicando a resposta imune.

Nicotina causa broncoconstrição diretamente, associada ao aumento da resistência da via aérea.

Usuários podem ao longo prazo evoluir para DPOC

Alterações hemodinâmicas

Aumentos agudos na pressão arterial e frequência cardíaca pelos efeitos da nicotina. Estimula liberação de catecolaminas podendo causar efeitos exagerados durante a anestesia. Pode se observar disfunção plaquetária, disfunção endotelial e aumento do estresse oxidativo o que aumenta a chance de doenças cardiovasculares.

Aumenta lipogenese, angiogenese e inflamação trazendo aumento do risco de trombose.

É importante sempre considerar presença de doença cardiovascular em pacientes com uso crônico de cigarros eletrônicos. Promove, também, aumento do risco de arritmias e alteração na relação de suporte/demanda miocárdica de oxigênio.

Os cigarros eletrônicos demonstram pouca produção de CO (monóxido de carbono) mas observa-se aumento de infecções de ferida operatória.

Farmacologia

A produção de tolueno pode causar depressão SNC e redução da dose de anestésicos. Os efeitos da nicotina são semelhantes aos cigarros tradicionais nas medicações. Ocorre aumento no metabolismo dos BNM, opioides e sedativos, sem evidencias científicas significativas.

Figura 3. Efeitos da nicotina e estrutura dos cigarros eletrônicos.

Para finalizar, vale destacar que é muito importante os anestesistas entenderem as implicações dos cigarros eletrônicos a curto e longo prazo.

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Fonte:

The implications of vaping for the anaesthetist

BJA Educ. 2021 Jul; 21(7): 243–249. Published online 2021 Mar 18. doi: 10.1016/j.bjae.2021.02.001

PMCID: PMC8212162PMID: 34178380

T.G. Cutts∗ and A.M. O’Donnell

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